Foto Maurício Barbosa (Arquivo/Diário)
A redução do efetivo é uma realidade enfrentada tanto pela Polícia Civil quanto pela Brigada Militar em Santa Maria e na Região Central. Apesar do investimento em tecnologia e da integração entre as instituições, o déficit de servidores ainda compromete a atuação das corporações da segurança pública.
No programa Análise, da Rádio CDN 95.3 FM do último sábado (27), apresentado pelo jornalista Deni Zolin, os chefes da Polícia Civil e da Brigada Militar demonstraram preocupação com a falta de agentes. O delegado regional de Polícia Civil,Sandro Meinerz, afirmou que a cidade conta hoje com cerca de 20% menos agentes do que em 2015, quando ele assumiu o cargo. Isso representa cerca de 40 policiais a menos. Atualmente, a cidade conta com 11 delegacias em funcionamento, incluindo todas as especializadas, mas sofre com a falta de material humano.
– Deveríamos ter mais agentes policiais em atividade. Estamos produzindo muito mais com menos. Melhoramos a resposta e o planejamento estratégico, mas se tivéssemos o mesmo efetivo, certamente a resposta seria melhor – disse.
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O delegado lembrou que há mais de 15% do efetivo em condições de aposentadoria cuja recomposição deve demorar. O concurso público para novos policiais ainda não saiu, e mesmo quando for lançado, a formação demora 12 a 18 meses (leia mais abaixo). Com isso, a previsão é de que novos servidores só estejam disponíveis a partir de 2027.
Uma alternativa em andamento é o programa que prevê o retorno de servidores aposentados, o que deve trazer entre 10 e 12 policiais de volta às delegacias. O projeto foi está ativo.
– É pouco, mas já representa quase 10% do meu efetivo atual. O problema é que o aposentado pode pedir para sair a qualquer momento – informou Meinerz.
O titular do Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO) Central, coronel Cleberson Bastianello, também apontou dificuldades semelhantes na Brigada Militar. Segundo ele, o déficit chega de 30% a 40% do efetivo.
– Já tivemos situações piores, com menos de 50%. Hoje, estamos entre 60% e 65% do efetivo, o que significa um déficit de cerca de 30%. Precisamos de tecnologia, mas atrás dela tem que ter o policial para agir – afirmou Bastianello.
Inteligência
Durante o programa, o coronel lembrou que o efetivo da Brigada Militar no Estado já foi de 33 mil homens e mulheres na década de 1990. Em 2017, período de pico da criminalidade, caiu para 14 mil. Atualmente, gira em torno de 18 mil servidores.
– Em Santa Maria não é diferente. Nosso efetivo diminuiu muito. Mas, mesmo com menos policiais, conseguimos reduzir os índices de criminalidade com investimento em inteligência, armamento e operações como a Cerco Fechado – disse.
Para suprir a falta de servidores em cidades menores, a Brigada tem adotado soluções alternativas, como as patrulhas intermunicipais, e o apoio de unidades especializadas, como o Batalhão de Choque, que pode ser deslocado de Santa Maria para atender outras cidades.
A devasagem
Tanto a Polícia Civil quanto a Brigada Militar não divulgam seus efetivos em Santa Maria, mas revelam o déficit:
Polícia Civil
- Delegacias – 11
- Déficit de policiais – 20% (cerca de 40 servidores)
Brigada Militar
- Déficit de policiais – 30% a 40%
Sindicato aponta agravamento do problema
O presidente da União Geral dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm-Sindicato), Isaac Ortiz, reforça a gravidade da falta de servidores. Ele destaca que, somente neste ano, 38 policiais civis pediram exoneração por motivos ligados à remuneração.
– Há um descompasso salarial que já dura oito anos. Isso tem desmotivado os profissionais, não apenas na Polícia Civil, mas também na Brigada Militar, na Susepe (atual Polícia Penal) e no Corpo de Bombeiros. Muitos policiais qualificados estão deixando a carreira para prestar outros concursos. Mesmo com concursos em andamento, o governo não consegue realizar nomeações em tempo hábil – diz.
O problema não se restringe às aposentadorias: há um fluxo migratório de policiais para outros Estados e carreiras, em busca de melhores salários e condições de trabalho:
– Antes, tínhamos salários dignos. Hoje, vemos profissionais qualificados saindo para outros concursos, o que aumenta ainda mais a defasagem.
Atualmente, a Polícia Civil conta com cerca de 5 mil policiais no Estado, mas o sindicato calcula que seria necessário um aumento de 50% para atender a demanda. Isso representaria a incorporação de 2,5 mil agentes.
– Há mais de 90 municípios gaúchos com apenas um policial civil em atividade. Essa é uma situação alarmante. Se não houver uma política permanente de concursos aliada a melhorias salariais, a evasão tende a aumentar e o déficit vai se agravar ainda mais – alerta Ortiz.
Apesar das medidas paliativas e do uso crescente da tecnologia, tanto Polícia Civil quanto Brigada reforçam que a recomposição de efetivo é essencial para garantir a segurança da população.
– Efetivo é sempre a massa que precisamos melhorar – resume coronel Cleberson Bastianello, da Brigada Militar.